quinta-feira, 14 de junho de 2012

Amargo de coração

Em 2008 decidimos arranjar algumas ovelhas: cinco e um carneiro de raça Merino Preto para começar.
Porque não experimentar? Tínhamos espaço e pasto suficiente que dispensava despesas com a compra de feno ou rações...



O nosso amigo, Sr. Casimiro, que toda a vida lidou com gado, ajudou-nos a construir um abrigo provisório e orientou-nos de início, porém com o passar dos dias fomos aprendendo e inserindo as lides do maneio do gado ovino na nossa rotina diária. Soltamo-las para o pasto, recolhêmo-las e contamo-las todos os dias; quando é preciso curamos feridas, desinfectamos o cordão umbilical dos recém-nascidos, limpamos o ovil e os bebedouros, ajudamos na tosquia e na vacinação... Enfim, encaixamo-las na nossa vida e elas a nós, na delas.

Naturalmente, de ano para ano o número de animais multiplica-se e periodicamente há que reformar as mais velhas. 
Recentemente desfizémo-nos das quatro matriarcas do rebanho e por cá essas decisões nunca são tomadas de ânimo leve. À partida foram para bem, para as mãos de um senhor com intenção de fundar um novo rebanho...



Emocionalmente custou menos do que- inevitavelmente- ter de as vender para abate dentro de um ano ou dois, mas quando se foram embora ficou um vazio turvo e espesso que me deixou de coração atado, sem poder fazer mais do que me despedir delas até ao dia para lá dos dias, que na minha forma de ver o mundo e esta vida, é descabido ser um exclusivo humano.