quarta-feira, 25 de abril de 2012

O leilão


Todos os anos, no dia 24 de Abril, a Coudelaria de Alter do Chão leva a cabo o tradicional leilão equestre aberto ao público e onde, mediante inscrição prévia, se pode apreciar e licitar os exemplares à venda. Este ano eram 25 os cavalos puro sangue que desfilaram no picadeiro, 14 fêmeas e 11 machos. Nunca tinha presenciado um leilão desta natureza, mas este ano decidi ir. Não por causa dos cavalos, nem por ser um acontecimento social único que atrai centenas de visitantes a Alter do Chão, antes pela novidade deste ano  no leilão: iria à praça um dos burros nascidos e criados na Coudelaria.


Inscrevo-me como licitadora no secretariado e entregam-me a raquete nº 28. Informam-me que cada vez que a levante, estarei a fazer uma oferta de mais 100€.
Primeiro desfilam todas as fêmeas; o burro há-de vir no intervalo. Estou com pressa e a primeira parte parece demorar eternidades... até que por fim chega o ponto alto!
Já o tinha ido ver ao estábulo e mesmo ao longe reconheço aquelas orelhas peludas e espetadas. Vem a passo, à guia, trazido por três jovens. Na primeira volta que dá ao recinto decide travar em frente da bancada do público e começar a zurrar. Ondas de riso!

É anunciado o seu preço base de licitação, 400€. Estou decidida a oferecer 500€ na esperança de que mais ninguém esteja interessado. Passa um minuto ou dois, mas há quem levante a raquete para os 600€... 700€... e acaba arrematado por 800€.
Levanto-me e vou até ao secretariado. Venho entregar a raquete, o animal que pretendia já foi vendido, obrigada! 
Fiz bem... dar mais de 500€ por um burro, mesmo de linhagem, não seria um bom negócio.

Ainda não foi desta vez que concretizei um sonho. Será doutra.
Por enquanto, fico apenas com o burro Platero, um dos protagonista das curtas e rendilhadas histórias de Juan Ramón Jimênez, passadas numa aldeia andalusa, onde a vida corre tão simples quanto o pode ser.
É o que ando a ler aos serões.